7 de dez. de 2011

Rorschach: Propaganda política barata em Watchmen!


“If you think there’s a huge amount of difference between [an artist] and Joseph Goebbels, you’re kidding yourself. Any form of art is propaganda.”

Alan Moore - 2002

Relí algumas coisas de Watchmen depois da polêmica de Alan Moore com Frank Miller e cheguei a uma conclusão estarrecedora. Alan Moore enganou todo mundo! Watchmen é uma saraivada de disparates contra a inteligência de um leitor bem informado, com o mínimo de conhecimento sobre política. Alan Moore se utilizou da série de maneira a propagar sua agenda esquerdista.

O maior exemplo de todos é o personagem Rorschach, a caricatura tosca e deformada de uma pessoa conservadora, uma caricatura extremamente clichê e negativa, uma distorção da realidade feita cuidadosamente com o intuito de denegrir pessoas desse tipo.

Walter Joseph Kovacs era filho de uma prostituta, teve uma infância muito pobre e conturbada, vítima de violência doméstica, não conheceu o pai. Após uma briga de rua, foi parar em um orfanato. Passou a juventude em subempregos, até se tornar um combatente do crime. Ele agora é um doente mental que vive todo sujo pela rua pregando o fim do mundo. Tem uma visão deturpada das coisas, baseada em conceitos simplistas de moral. Rorschach é cruel e mata sem dó. Veja alguns trechos doentios de seu diário:

"Carcaça de um cão morto no beco hoje de manhã com marcas de pneu no ventre rasgado. A cidade tem medo de mim. Eu vi sua verdadeira face. As ruas são sarjetas dilatadas cheias de sangue e, quando os bueiros transbordarem, todos os vermes vão se afogar. A imundice de todo sexo e matanças vai espumar até a cintura e as putas e os políticos vão olhar para cima gritando "salve-nos"... e eu vou olhar para baixo e dizer "não".

Eles tiveram escolha, todos. Podiam ter seguido os passos de homens honrados como meu pai ou o presidente Truman. Homens decentes, que acreditavam no suor do trabalho honesto. Mas seguiram os excrementos de devassos e comunistas sem perceber que a trilha levava a um precipício até ser tarde demais. E não me digam que não tiveram escolha. Agora o mundo todo está na beira do abismo contemplando o inferno e os liberais, intelectuais e sedutores de fala macia... de repente não sabem mais o que dizer."


" Logo vai haver guerra. Milhões vão queimar. Milhões vão perecer de doença e miséria. Por que se importar com uma morte? Porque existe o bem e o mal, e o mal tem de ser punido. Mesmo à beira do fim, isso não vai mudar. Mas muitos merecem punição... e há tão pouco tempo."

"Esta cidade é um animal feroz e complicado. Para entendê-la eu leio seus dejetos, seus aromas, o movimento de seus parasitas... Sentei olhando o lixo e Nova York abriu seu coração."



Essa é a visão que Alan Moore tem das pessoas conservadoras. Pra ele não passam de cachorros loucos assassinos, quando na verdade a maior parte dessas pessoas são educadas e até mesmo refinadas. Moore se utilizou da HQ para deturpar nossa visão dessas pessoas, tentando passar a idea de que elas são doentes mentais! Visões desse tipo nos levam a acreditar nessa ideia. É a mesma coisa que mostrar os comunistas como comedores de criancinhas viciados em drogas, uma manipulação! Segundo ele, Rorschach tem muito de Batman, mas não passa de uma versão do personagem Travis Bickle, de Taxi Driver. Um perdedor, louco, frustrado e solitário que não sabe como conter sua fúria interior, tornando-se um assassino.

Há na HQ uma condenação explícita as ações do personagem, principalmente seus assassinatos. Moore sempre afirma que ele foi o mais difícil de escrever, porque é a sua contraparte.

Já Adrian Veidt, "o homem mais inteligente do mundo", é um bilionário liberal (esquerdista) cujas ações são mostradas de forma positiva.

Ele é bonito, limpo, rico, saudável, inteligente e de moral relativista. Usou drogas na juventude e buscou a sabedoria mística. Filho de uma família rica, desde cedo demonstrou sabedoria e talento. Após a morte dos pais, deixou sua fortuna para os pobres e decidiu provar pra sí mesmo que podia juntar dinheiro sozinho. Tornou-se um empresário bem sucedido e um capitalista do bem, desenvolvendo formas limpas de energia. Como combatente do crime, tentou organizar os outros heróis em prol de questões sociais.

Ele encarna a visão liberal de Moore sobre os problemas da sociedade: o que estaria errado seria o "sistema". Veidt desenvolve uma mega conspiração para mudar o mundo e acabar com a ameaça de guerra nuclear. No final da história é ele que prevalece.

Estranhamente, Veidt mata um milhão de vezes mais que Rorschach: 3 milhões de pessoas, porém Moore expõe o personagem como o herói da história e utiliza o Doutor Manhatan para eliminar seu opositor, que é, logicamente, Rorschach! O louco conservador ameaçava denunciar Veidt e fazê-lo pagar pelos seus crimes. Mas no final o que prevalece é a visão de Veidt/Moore. O conservador cachorro-louco perde.

O que vemos é que a hipocrisia de Moore chega ao ponto de permitir que os personagens criados para difundir suas posições ideológicas cometam todos os mais horrendos crimes e continuem ilesos, mostrando sempre uma suposta superioridade moral e intelectual (o mesmo acontece em V de vingança). Já os personagens que ele cria para simbolizar as ideias que ele combate no espectro político sempre são loucos, criminosos condenáveis e invariavelmente terminam punidos no fim da história! Um paradigma moral simplista, digno das mais simples histórias de super-heróis da Era de ouro, porém aqui convertido em propaganda barata da ideologia política do autor.

Foram estas algumas coisas que notei em rápida releitura de Watchmen, há outras coisas que deixo para artigos futuros. O bom é saber que mesmo assim, o apocalíptico Rorschach sempre foi o personagem preferido de todos os fãs da série! E no final, seu diário é encontrado...



...

18 Comentários:

Roger Olivieri disse...

Quantos milhões o socialismo matou (entre 80 e 100 milhões segundo dados oficiais) desde outubro de 1917? Creio que foram muito mais que a Segunda Guerra Mundial, guerra da Coréia e Vietnã juntas... E pior, na maioria das vezes era o estado que estava matando seu próprio povo. Fui esquerdista até ser convidado a fazer parte de um grupo de estudos marxistas. Lá eu vi como as coisas funcionam na cabeça de um marxista-leninista. Caí fora e hoje sou right-wing...

Vinícius da Silva disse...

eheheheh. Exatamente. No fim das contas a figura de rorshach soa mais como uma espécie de santo atormentado diante de tanta miséria. Alan Moore deu um tiro no pé. Queria caricaturizar o conservador, e acabou acessando no inconciente coletivo uma mistura de santo, guerreiro e louco.

Tarcisio Marques disse...

Ah fala sério... o Veidt é o liberal. O Rorschach é uma tentativa de se criar um personagem com alguma moral e ética e que radicalizada vira este Batman/ Taxi Driver/aberração. Com que direito tem de sair fazendo justiça com as próprias mãos? Não seberia dizer até que ponto tais personagens são o Allan Moore. Daí um analista para ver isso... mas o que importa? Não dá para ficarmos na obra? Rogério... quantificar quanto o socialismo e capitalismo mataram é uma contagem que não sei se vale a pena. Mas se quiser levar adiante a contagem eu provo com números que a Direita matou muito, muito mais gente. E ainda mata! Os socialistas fizeram sua crítica interna e mudaram - claro que a duras penas. Mesmo o capitalismo hoje passa por um processo de incorporação de teses de esquerda. O mundo mudou (sei! é um clichê!)e ficar relendo Marx ou Lenin como se fosse século XIX (com fazem o grupo) pode ser um problema. Do que fica de Marx - um gênio na minha opinião - é a sua dialéica materialista e parte de sua metodologia que é uma tentativa de entender a realidade (ver Caio Prado JR no livro O que é Filosofia?). Se o Alan Moore é de Esquerda... e daí!Mesmo Frank Miller de direita faz ótimas histórias. Assim como Moore. Não acredito em arte isenta, nem em mídia insenta. Claro...isto cria mais problemas ainda. Platão tentou uma solução para isso (o que ia contra Heráclito que defendia a falta de uma verdade fixa e que tudo está em constante mudança). Mas a sua solução não nos serve hoje em dia. Afinal..."Deus está morto".

Ômega disse...

Nossa velho, na boa, você está errado. O foco da HQ não é politicagem e muito menos a política em sí, mas sim a trama de viver em cima de mentiras. Você leu procurando algo, mesmo que não exista...

Roger Olivieri disse...

Amigo __________, eu consigo números documentados sobre o morticínio dos socialistas, vc consegue documentos sobre o tal morticínio da "direita"? Lembre-se que nazismo e fascismo são coletivismos, logo, filhos do socialismo. E à propósito, Max Weber e Von Mises cagam em cima de Marx e passam o pé depois...

Handrus disse...

Concordo com o Ômega. As frases do Rorschach são para os políticos liberais da HQ, não do mundo real... Encontrar influências de outros autores, opinião pessoal e polêmicas da época é natural em qualquer forma de expressão (arte inclusa), mas dai a dizer que ela foi feita para ser um meio de difundir uma ideologia ou posição é um salta enorme.

Janjão disse...

"Há na HQ uma condenação explícita as ações do personagem, principalmente seus assassinatos. Moore sempre afirma que ele foi o mais difícil de escrever, porque é a sua contraparte."


Nesta área é onde eu vejo um dos maiores equívocos de Watchmen - o de todos os personagens acharem o rorsach um louco. Dificilmente num mundo real não haveriam pessoas que apoiariam suas ações (ele matou um assassino e crianças e um estuprador serial). Até mesmo na polícia haveriam simpatizantes.

Só comparar om o Justiceiro da marvel. Muitos policiais dizem que ele está certo em fazer o que faz e uma parte significativa da população o apoia.

Talvez por suas convicções políticas Moore deixou de retratar este dado também, em detrimento do maior realismo da hq.

Jean Silva disse...

Cara, vc precisa parar com essa oposição gratuita... você tá dizendo que putas e políticos são conservadores??? WTF?

Jean Silva disse...

Alan Moore é o Veidt seu idiota... que não tem nada de esquerdista... oq liberalismo tem a ver com esquerda? Só fala bosta...

Tavares disse...

Vc fez uns comentários muito estúpidos, Pseudônimo

Charles disse...

Alan Moore é completamente esquerdista. Tem sacadas geniais em suas histórias, mas sempre as tempera com cunho político esquerdista.
É mais um colaboradores, conciente ou não, do marxismo cultural.

Bruno Vinícius disse...

Eu acho que diz mais respeito sobre um personagem do que sobre o Moore.
Quem procura acha e você queria e encontrou em detalhes mínimos o que tentou julgar ser um monstro gigantesco;
Tentou diminuir uma arte maior do que a que eu e você seríamos capazes de criar, ainda mais em outros tempos.
É óbvio que o cara é esquerdista, mas cada um interpreta como quer. Quem é inteligente sabe desviar da propaganda de qualquer coisa e quem é idiota pode deixar passar desapercebida até uma mensagem subliminar.
A própria resenha que escreveu é totalmente partidária e ai, o que fazer sobre?
É SUA opinião dada no SEU texto.
Cada um expressa a própria opinião como quer; O quadrinho é dele e ele pode fazer o que bem entender,
Se você não gostar, só não leia, não compre, não venda, não faça propaganda.
Rorschach é um personagem extremamente bem estruturado, como afirmar que ele "Acabou criando algo"?
Era o personagem que ele QUERIA criar e por isso saiu assim,
Hiperbólico em muitos momentos, mas, pelo menos com o meu conhecimento limitado, jamais o chamaria de infantil.
-Pra completar: Criticar uma personagem pelos seus ideais como se ele fosse o autor é besteira - é como dizer que Moore é um Sádico estuprador por causa do Comediante.

[Procurei não ser agressivo, me desculpe se fui, é que quase não concordei em nada com sua resenha]

E repetindo o que foi dito: Toda forma de arte é uma propaganda.

Gustavo disse...

Toda criação tem um pouco do criador. Em todas as histórias criadas há uma visão do próprio criador sobre o mundo, sua cultura, e suas experiências vividas. Agora falar que é uma propaganda é pegar um pouco pesado. Aliás, se formos pensar deste jeito quantas histórias não foram propagandas de direita? A grade maioria diria eu. O própri superman, que é a personificação Judaica. Seria uma dominação do povo não judeu? Claro que não, pois o criador teve sua visão de mundo refletida em sua criação. Vamos pegar leve aí neh!!!

Márcio Lima disse...

"Moore se utilizou da HQ para deturpar nossa visão dessas pessoas, tentando passar a idea de que elas são doentes mentais!"

Mas muitos conservadores SÃO MESMO doentes mentais! Nisso Moore acertou em cheio.

O artigo escrito pelo REAÇA OLAVETE autor deste blog me motivou a reler Watchmen... é o que eu farei agora...

FABIO VALENTIM disse...

AFF... SE VCS VEREM O FILME NA QUAL AS FRASES DE RORSCHACH SAO RELATADAS AQUI PERCEBERÁ QUE NÃO É ADRIAN QUE VENCE E SIM O RORSCHACH POIS ELE DEIXA SEU DIARIO COMPROVANDO TODA A TRAMA DE ADRIAN...
CLARO QUE É BASEADA NA HQ, MAS NAO PODE SE DEIXAR DE NOTAR QUE NIXON É O PRESIDENTE, ALGO TRAGICO... VIETNÃ DEVASTADA PELOS AMERICANOS... TUDO IMAGINAÇÃO... FICÇÃO... E MAIS O SOCIALISMO MATOU MAIS GENTE DO QUE A OTAN EM SI.... A REVOLUÇÃO DE 1917 FOI SUSTENTADA POR MILHOES DE MORTOS , ASSIM COMO EM CUBA E CHINA...

Unknown disse...

Putz, cara, será que nós lemos a mesma HQ? É justamente o contrário: o vilão é o Veidt, que mata milhões de pessoas achando que é o melhor caminho para se evitar a guerra. O mocinho é Rorschach, que não aceita o genocídio, ameaça denunciar seu ex-colega e morre por isso. Como escreveu o Fábio, o diário do Rorschach vai até uma redação relatando as atrocidades do "homem mais inteligente do mundo" e o final fica em aberto. Nem mesmo o Comediante aceitava a ideia bestial do Veidt. A beleza da obra de Moore é a complexidade dos personagens, sem banalizar para o arquétipo "mocinho/bandido". É preciso deixar de ver o mundo em preto e branco, meu caro.

Anônimo disse...

kkkkk E isso tudo foi baseado em uma rapida leitura? Isso explica...

Breno Góes disse...

Não acho que Moore coloque o Veidt explicitamente como um herói. O final é muito, muito, muito ambíguo. Aliás, o fato de veidt se colocar como "o salvador" tem um que de extremamente fascista.

Claro que o Rorschack é uma caricatura, mas nem por isso acho que ele represente "o direitista"... Se você parar pra pensar, o coruja (Dan) também se encontra politicamente na direita liberal, mas uma direita um pouco mais moderada não-revolucionária, reformista e, como você bem disse "bem educada".

Rorschack, como Veidt, é apenas um extremista. Nós sabemos que existem extremistas por aí, e num mundo pós-doutor manhatann eles com certeza apareceriam aos montes! Se surgisse um homem capaz de tudo que o Manhatann era, você também não sairia por aí com placas do tipo "o fim está próximo?".

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